Graças a Deus, minha vida foi marcada por vitórias, embora também tenha havido as derrotas.
Mas isso nos remete a descobrir o verdadeiro significado de vitória.
Segundo Aurélio, meu caro amigo, vitória é o ato ou efeito de vencer o inimigo ou competidor em uma guerra, batalha, ou, ainda, em qualquer competição. Aparentemente é um conceito objetivo, mas se você analisá-lo bem, perceberá que toda a subjetividade da vitória está no inimigo em questão que deve ser derrotado.
Lembro-me de uma vitória um pouco cômica, mas emocionante que tive na infância.
Assim como hoje, sempre fui a aluna mais nova da turma. E durante todo o ensino fundamental sempre fui a mais pequenininha, a mascote.
Eu estava na 1ª série, na escola Boas Novas. Tinha 5 anos, e estava havendo um campeonato de queimada na escola.
Já era a final, a 1ª série C (minha turma) com meninas com 8 anos em média, contra as meninas da 2ª série, entre 9 e 10 anos. Imaginem eu, pobre Jérula, com apenas 5 aninhos, enfrentando as gigantes da 2ª série (é sério, elas eram gigantescas, gordas, altas e malvadas...)
Estavam todas as turmas da escola para ver a grande final. Inclusive a minha irmã, Raquel, que estudava na escola, e todos os seus admiradores (inclusive um em especial, por quem eu, na época, tinha uma ligeira queda).
A minha técnica de jogar queimada era simples e prática: EU NÃO DEIXAVA A BOLA ME PEGAR DE JEITO NENHUM, MAS NEM CHEGAVA PERTO DELA.
Para me defender era perfeito, eu fazia minhas acrobacias e a bola só ficava de um lado para o outro, e as demais meninas do meu time se rensponsabilizavam de pegar a bola e acertar as garotas do outro time.
No entanto, as meninas do meu time começaram a desaparecer do campo (haviam “morrido” e foram para o “cemitério”). E lá estava eu, sozinha, fugindo incansavelmente da bola, sem conseguir pegá-la. Eu já estava ficando cansada, e foi aí que todos do público começaram a grita meu nome: JÉRULA! JÉRULA!
Eu nem sabia que tanta gente sabia meu nome. E estavam lá, todos gritando e torcendo por mim. E eu não conseguia pegar a bola. Nem teria força suficiente. Pois as gigantes da 2ª série já sabiam que haviam ganho o jogo e estavam doidas para ganhar o prêmio, e eu estava impedindo, correndo de um lado para o outro, atrapalhando sua vitória.
Elas jogavam a bola com raiva, impacientes. E todos olhavam para mim esperançosos. Olhei para Raquel, ela sorria, rodeada por seus admiradores que também gritavam.Olhei para o meu professor de educação física, que não ensinava só educação física, adorava quando ele nos ensinava a fazer dobraduras. Eu gostava dele, era um bom professor e estava torcendo por mim.
Não sei se vocês já sentiram isso. Mas eu, com 5 anos, pela 1ª vez na vida havia tido aquela sensação de dever cumprido. Tá, eu sabia que não tinha como eu vencer aquele jogo. Mas eu me considerei vitoriosa.
Toda a escola torcia por mim, até o meu querido professor.
Eu conseguira adiar a vitória das gigantes da 2ª série por mais de 30 minutos. Elas iriam ganhar, mas seria uma vitória desleal.
A minhas últimas forças estavam acabando, e em meio aos gritos dos espectadores, começei a chorar e abracei meu professor. Mesmo assim ainda levei duas boladas nas costas das meninas malvadas da 2ª série, inconformadas com o fato de que todo mundo foi ver como eu estava e ignoraram a aparente vitória delas.
Não havia mais como discutir... Eu havia ganhado o jogo...
quem sabe...
Há 13 anos