quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Chuva


Ela estava sentada no meio da rodinha deles. Não tinha qualquer semelhança com qualquer pessoa daquele grupo de estudantes, mas ele estava lá, então ela também estava. Não sabia desde quando nem por que começara a gostar dele, mas só sabia que o amava e o fato de um dos amigos dele tê-la chamado para sentar-se junto a eles não a desagradava.

Sabia que os demais estranhavam sua presença ali, mas o garoto que a chamara precisava de sua ajuda nas questões do trabalho de recuperação de matemática. Portanto todos a ignoravam. Até mesmo ele, podia comprovar enquanto o observava, com seus cabelos caindo-lhe sobre os olhos brincalhões e o lindo sorriso enaltecendo toda a beleza daquele divino rosto.

Num determinado momento, o viu direcionar um olhar para ela e sorrir. Ela desviou o olhar rapidamente para a folha de exercício e tentava imaginar o motivo do sorriso.

Tentando se concentrar nos exercícios do colega, o que parecia difícil ao sentir a presença dele tão próxima e ouvir sua voz tão grave e doce, mal ouvia as conversas deles, apenas sabia que falavam de festas, seu principal passatempo.

__Você não sai? __ Ela olhou e viu que a pergunta se dirigia para si. Todos a olhavam esperando uma resposta e surpreendidos por a garota mais linda da sala ter dirigido a palavra àquela CDF esquisita. A garota linda e popular a observava com um falso interesse e uma expressão indiferente. Vendo que não havia como não responder, balbuciou o mais baixo que pôde.

__Às vezes.

__Não ouvi.

__Às vezes. Não gosto de balada, prefiro ler, assistir a algum filme, conversar com os amigos. Só saio para lugares calmos, em que se possa conversar. __Disse com uma maior segurança, tentando enfrentar aquela garota tão arrogante, e tentando não gaguejar, pois percebia o olhar dele colado em si.

__Você precisa ser mesmo tão CDF, garota?! __Perguntou Linda, com ar de deboche.

__Eu não sou CDF. Eu gosto de estudar, acho curioso e divertido. Mas não é por isso que eu não saio muito. Só não vejo sentido em se divertir com um monte de gente que você nunca viu.

__Ah, garota. Você acha mesmo que desse jeito vai conseguir algum dia conquistar o Aquiles?!

Ela sentiu seu rosto pegar fogo. Todos os olhares eram de surpresa, mas o seu era de pânico. Voltou o rosto para a folha de exercício, mas não enxergava nada. Na sua fronte apenas passava a imagem do rosto de Aquiles, para o qual olhara inconscientemente e vira sua expressão de espanto.

__Fala sério! __Disse finalmente, após segundos que pareceram Eras, tentando dar um ar de divertimento a sua exclamação, que mais parecia um anúncio de morte.

__Para de ser ridícula, garota! Todo mundo sabe que você gosta dele. E não me parece que você tentou disfarçar, fica olhando para ele a aula toda, secando, babando quando ele passa. Poupe-me. Não seja ridícula.

Ela tentava segurar com toda sua força que se extinguia as lágrimas que teimavam em brotar. Mesmo que não tivesse forças para falar o que quer fosse em sua defesa, pelo menos não choraria na frente de Linda e de todos os seus colegas. E principalmente, de Aquiles, aquele deus grego.

Olhou para eles, Linda estava impassível, como se lhe perguntasse as horas, alguns colegas, como o que lhe chamara, pareciam assustados, outros se seguravam para não rir, já outros, menos controlados, gargalhavam.

Não olhou para Aquiles, não queria ver se ele também sorria.

__Pega leve, Linda. __Disse alguém em sua defesa. Ela olhou, não para ver quem era, pois já conhecia aquela voz que invadia seus sonhos, mas para admirar o seu protetor.

__Não vem não, Aquiles. Não seja hipócrita. Você mesmo ficava comentando com a gente o quanto ela ficava te olhando, e como ela era ridícula. Você mesmo debochava com a gente, quando ela passava, e tirava sarro. Por que você não fala agora o que já falou pra gente?! Por favor, Aquiles, não seja hipócrita!

__Linda. Pega leve.

Ele parecia sério e irritado. Ela percebeu apenas por seu tom de voz, pois imaginar que ele zombara dela a incapacitava de poder olhá-lo.

__Eu falo isso para o seu bem, garota. É ridículo você ficar olhando para ele, sem se declarar nem nada. Embora o ridículo mesmo tenha sido gostar dele. Como você pôde se achar tanto para poder gostar do garoto mais bonito do colégio. Não seja estúpida.

__Você... __Disse ela transferindo as forças que guardavam as lágrimas, as quais começaram a brotar, para sua boca que conseguia falar com a voz embargada. __Você precisa mesmo ser tão... má. __E o silêncio de todos lhe deu forças para correr dali e sair do colégio.

Eram seis e meia da noite, tudo escurecia, e deveria pegar o próximo ônibus. Esperaria na entrada da escola, mas não poderia ficar no mesmo espaço que eles. Dirigiu-se à saída e viu que chovia forte. Molharia o caderno e os livros. Mas não se importava, nem sabia se os usaria novamente, se voltaria para a escola. Então correu com todo o seu vigor, e se ele fosse o suficiente, daria para chegar em casa.

__Precisava disso mesmo, Linda?! Precisava?! __Exclamou ele com raiva pela culpa que sentia por ter zombado dela e por ser amigo e ter namorado Linda.

__Você não vai atrás dela, vai?! Fala sério, Aquiles! Não seja ridículo!

Sem ouvir ninguém, correu até a saída do colégio e a viu correndo desajeitadamente e chorando sob a torrencial chuva. Então, numa tentativa desesperada, gritou:

__Ella! Ella!

Ela não se virou, nem pareceu ouvi-lo. Uma força insana o fez jogar o material da escola e correr debaixo da chuva à sua procura.

Ela o viu chamá-la e correr na chuva atrás dela. Não conseguia imaginar o que ele poderia querer. Zombar dela?! Já não havia sido o suficiente?! Correu com ainda mais força, mas Aquiles fazia diversos esportes na escola e logo a alcançou, embora estivesse sem fôlego.

__Ella, espera! __ Gritou segurando seu braço e virando-a para si.

__O que você quer?! Você quer ver como eu fiquei?! Quer contar para eles que me encontrou chorando, correndo na chuva?! Pode contar para eles o que você quiser, que eu não vou desmentir, conte que eu me declarei para você e me ajoelhei aos seus pés. Ou o que você conseguir inventar que seja mais engraçado. Não sou boa nisso, não tenho o costume de zombar das pessoas.

__Ella, eu não vou fazer nada disso. Eu seria incapaz disso.

__Então para que você veio?! Para rir de mim?! Para quê?!

__Eu não sei.

__Ótimo. Então pode voltar. Você está se resfriando à toa.

__Desculpa, Ella.

__É tudo verdade, então?!

__É. E quanto a você? É verdade?!

__Que eu gosto de você?! Já não é tão óbvio?!

__Perdão, Ella. Mas por que você nunca me disse?! Era melhor do que ficar apenas me olhando de longe, e ficar ruborizada quando eu falo com você.

__Então eu sou mesmo ridícula?!

__Não. É só que a gente zombava do seu jeito tímido e sonhador. Quando você olhava para mim, parecia que estava sonhando acordada. Era engraçado, afinal nós éramos adolescentes idiotas.

__Eu era mesmo iludida. Mas não se preocupe. Agora eu o conheço. Toda a fantasia se desfez.

__Você devia ter me falado.

__Sim, assim seria bem mais divertido.

__Não. Desculpa, Ella. Eu não tinha o direito.

__Está desculpado, Aquiles. Você é mortal, bem mais do que eu imaginei. Está sujeito a falhas, e eu o superestimei. Você quis a glória eterna, e terá.

__Ella, não fica assim.

__O que você ainda quer de mim?! Eu o desculpei. Estamos gritando no meio de uma chuva torrencial, os meus livros estão virando uma pasta. Por que você não vai embora?!

__Eu não sei.

__Ótimo. Eu vou embora.

__Espera, Ella. __Pediu ele segurando seus dois braços. __Acho que eu não queria que você se decepcionasse comigo. Era divertido você olhar para mim e pensar que eu era perfeito e agora descobrir que eu não sou é tão deprimente.

__Sim, seu ego deve estar bem machucado.
.
__Mas não é apenas isso. Eu descobri que eu só poderia saber que você olhava para mim, se eu olhasse para você. Eu só poderia perceber que você me observava, se eu observasse você. Só poderia ver que você se enrubescia sempre que eu falava, se eu olhasse para você a cada fala. Só poderia ver que você me admirava se admirasse você. E só poderia saber que você me amava se eu amasse você o suficiente para conhecer todos os seus sorrisos, seus olhares, seus gestos, suas palavras, suas expressões, sua voz. E eu acho que eu amo você.

__Isso é uma piada?!

__Não! Mil vezes não! Estou sendo sincero como acho que nunca fui. Por favor, não duvide de mim.

__Como posso não duvidar?! Como posso não pensar que isso é uma armadilha para eu me iludir de novo e vocês rirem de mim?! Eu não posso fantasiar de novo, não conseguirei sobreviver a outra humilhação como essa.

__Eu sei que não mereço sua confiança, mas quem sabe sua pena. Eu corri atrás de você. Estou nessa chuva. Posso até morrer de pneumonia. Não faria isso tudo apenas para que aqueles meus colegas idiotas sorrissem. Não sabia o porquê, apenas uma força inconsciente me conduzia. Mas agora eu descobri. Eu te amo, Ella.

__Não posso nem consigo acreditar. É algo tão bom e tão impossível que qualquer pessoa racional não acreditaria.

__Ella, eu posso provar da forma que for. EU TE AMO, ELLA! __Bradou Aquiles.

__Ninguém deve ter ouvido e muito menos acreditado.

__EU TE AMO, ELLA!!! EU TE AMO!!! EU TE AMO!!! EU TE AMO!!! EU TE AMO!!! EU TE AMO!!!

__Calma, você está ficando rouco.

__Eu sei. Mas não me importa. Se você não me quiser, nada me importa mais.

__Não exagere, Aquiles.

__É verdade, Ella. Eu nunca menti para você.

__Aquiles, se for mentira eu mato você. Mato mesmo da pior forma que eu conseguir imaginar, afogado numa piscina de água fervente, ou algo mais estilo jogo mortais.

__Mas... E se for verdade... __Perguntou Aquiles com malícia e sorrindo do instinto assassino de Ella, que o surpreendia e o apaixonava cada vez mais.

__Ah, se for verdade. Já é outra conversa. __E sem hesitação, aceitou o abraço e o beijo doce e apaixonado de Aquiles.

A chuva caía mais brandamente, e a noite escurecia ao redor daquele casal. As estrelas começavam a surgir, assim como a Lua, todas curiosas para saber que evento tão fantástico havia acontecido na Terra, que era sempre tão desinteressante.


PS: sei que o post foi absurdamente enorme, mas bateu um instinto literário em mim, e eu precisava escrever.
PSS: Esse é um texto de ficção qualquer semelhança com a realidade passada, presente ou futura (quem sabe?) é mera coincidência.
PSSS: Esse texto é de minha exclusiva autoria (Jérula Lima), sendo proibido plágios e uso do texto sem minha autorização.
PSSSS: Estou me achando, não?!

4 comentários:

Filipe Veras disse...

jérula. decepcionei-me muito agora.

P.S. significa post scrip (ou post scriptum, pra ser mais latino). Logo, multiplos "p.s." não se fazem acrescentando "S"s, se fazem acrescentando "P"s. Como alguém que leu "O Hobbit" não saberia disso??

Anônimo disse...

mil perdões!!!! confundi-me.... vc poderia relevar....
poderia sim, afinal eu não li "O HOBBIT"... mas agora prometo q não errarei mais..ei o q vc achou? romântico?! poxa, eu escrevo 5 páginas, e vc ssó fala dos meus defeitos...eu q estou decepcionada..

Lucas disse...

Huhauhauhahau... eu sempre coloco: P.S. depois PS2, PS3 (preisteixon, preisteixon...)

Pode ignorar o filipe xD, o texto ta muito bom, o q dele e real? Aposto q vc se baseou um pouco em Um Amor pra Recordar. Parece q todo mundo anda escrevendo contos...

Atualizei...

KarinaK disse...

ei, ia falar justamente isso... só pq escrevi um conto no meu blog, td mundo se empolgou para postar contos nos seus próprios blogs... ahauhauahauahauhau
Não sabia de toda essa minha capacidade de influência...
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Agora falando sério... O texto fikou bom... Achei muuuuuuito familiar com... hum... algo no rumo de O diário da Princesa...
Pelo menos, foi a Mia quem imaginei como Ella!

Um romance bem meloso, com final feliz (¬¬), e com falas até engraçadas (no diálogo entre o casal principal)...

Ah! só não gostei mto dos nomes... aff, poderiam ter sido melhores, não?! tipow, "Aquiles, um deus grego"... e Linda, a menina mais linda do colégio...

Mas novamente ressalto: BOM TEXTO! x)